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terça-feira, 22 de março de 2016

EM - Igreja da Pampulha fica sem reforço na vigilância



No entorno do monumento foram colocados cavaletes com fitas de isolamento, porém, nenhum esquema especial de guarda


A Igreja de São Francisco Assis, também conhecida como Igrejinha da Pampulha, não recebeu vigilância reforçada na noite desta terça-feira, mesmo depois de ter amanhecido pichada na segunda-feira, conforme constatou no local a reportagem do Estado de Minas. No entorno foram colocados cavaletes com fitas plásticas isolando o monumento, que integra o conjunto arquitetônico modernista candidato a patrimônio da humanidade.

O presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas Oliveira, disse na tarde desta terça-feira que todos os equipamentos públicos da Pampulha têm guarda e ressaltou: “Vamos apoiar a igreja na segurança a partir de hoje.” Porém, agora noite não havia qualquer esquema extra de vigilância.

O coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC), Marcos Paulo de Souza Miranda, afirmou nesta terça-feira que a pichação em BH é fruto do “descaso” da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Segundo Marcos Paulo, a administração municipal já deveria ter publicado o decreto com regras para multar infratores e endurecer o combate à pichação.

Na lista de diretrizes do documento, estão pelo menos seis medidas – entre elas, acordo para que o município receba cópia dos boletins de ocorrência policial e assim possa cobrar do infrator os custos da limpeza do bem pichado, além de multa. “Infelizmente, o decreto não saiu do papel e a Igrejinha da Pampulha é mais um triste ato nessa história”, criticou o promotor de Justiça.

A prefeitura informou que “não repercutirá a opinião do promotor”, mas enfatizou que o decreto, na realidade, é a Portaria 088/2015, publicada no Diário Oficial do Município (DOM) em 10 de outubro de 2015. O texto determina uma fiscalização integrada entre órgãos do município para coibir as pichações. 


domingo, 24 de janeiro de 2016

EM - Qualidade da água piora e causa preocupação na Lagoa da Pampulha



Especialistas apontam que agravamento afeta todo o ecossistema, provocando contaminação e extinção de animais. Apenas os mais resistentes 
conseguem sobreviver

Reportagem: Mateus Parreiras


O caldo espesso de algas verdes e esgoto que toma conta da superfície da Lagoa da Pampulha afeta ainda mais do que se imagina o fundo da represa e o todo o ecossistema desse cartão-postal de Belo Horizonte, candidato a patrimônio cultural da humanidade. Os micro-organismos que roubam o oxigênio e a luz da água e os lançamentos de dejetos domésticos e industriais fazem de todo o conteúdo do lago um meio inóspito, onde somente os animais mais resistentes conseguem sobreviver, ainda que contaminados. Com câmeras aquáticas que vasculharam o fundo do reservatório e em embarcações que percorreram sua extensão, a reportagem do Estado de Minas mostra como é o ambiente degradado, onde se adaptaram para sobreviver jacarés-do-papo-amarelo, capivaras, cágados, peixes e aves. Situação que, apesar de investimentos que somam R$ 1 bilhão desde a década de 1990, só tem piorado, como mostram os últimos dados de análises da qualidade da água. Não bastassem animais intoxicados, os peixes irregularmente pescados e altamente contaminados estão sendo vendidos a frigoríficos, que os comercializam, numa grave denúncia de crime contra a saúde pública.

Mesmo depois de a Copasa ter ampliado a interceptação de esgotos nos últimos três anos – de 65% para 87% dos lançamentos –, nesse mesmo período a qualidade da água do lago só piorou, de acordo com as análises feitas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Levando-se em conta o resultado do pior período de seca, que é quando mais concentrados os poluentes estão, desde 2013, a poluição da lagoa aumentou 67%. Dos 21 parâmetros avaliados, 14 foram piores entre julho e setembro do ano passado em relação ao mesmo período de 2014 e 2013 (veja quadro). Para o coordenador do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ricardo Motta Pinto Coelho, isso se deve aos mais nocivos lançamentos de poluentes não estarem concentrados no esgoto doméstico despejado pela população e que vêm sendo interceptado pela Copasa. “Há milhares de ligações clandestinas de indústrias lançando um volume enorme de efluentes no reservatório e simplesmente não são fiscalizadas. Não adianta apenas culpar o esgoto dos aglomerados”, afirma.

Apesar de adaptados ao ambiente encontrado atualmente, até mesmo os jacarés, capivaras, cágados, peixes e aves podem ter sua saúde deteriorada com a contínua piora da qualidade ambiental, caso as promessas de purificação do lago mais uma vez não saiam do papel. Segundo pesquisa do professor Ricardo Coelho, pelo menos quatro espécies de zooplanctons que serviam de alimento a outros animais foram extintas do reservatório pela poluição. Outras seis espécies de peixe já não são mais encontradas nas águas. Por todo o espelho d’água veem-se boiando aves aquáticas e peixes mortos. “Atualmente, são animais que estão contaminados por metais pesados e tóxicos e isso é um acúmulo que no longo prazo pode trazer outros efeitos e impedir que vivam na Pampulha se a poluição piorar”, pondera o engenheiro de pesca Luiz Alberto Sáenz Isla, especialista em aquicultura e mestre em ecotoxicologia pela USP.

Para especialistas, um dos animais que demonstram adaptação às condições da Pampulha é o jacaré-do-papa-amarelo. “Esse réptil é um predador ativo que está no topo da cadeia alimentar e não aparenta estar enfraquecido pela poluição. Sua proximidade com os homens e a aparente apatia nos banhos de sol fazem com que se pareça dócil e encorajam contatos que podem ser repelidos a mordidas”, alerta o biólogo responsável pelo Setor de Répteis e Anfíbios da Fundação Zoobotânica da capital, Luís Eduardo Coura.

Reportagem do Estado de Minas mostra o fundo da Lagoa da Pampulha:


PESQUISA Segundo os biólogos da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a dieta principal do animal consiste de peixes. São estimados mais de 20 indivíduos habitando os três lagos que conectados formam a Pampulha. Os hábitos reprodutivos, o domínio de território, o número atual de exemplares e as espécies que habitam o reservatório estão sendo levantados em trabalho da Faculdade de Veterinária da UFMG. Naquele ponto, a reportagem sondou o fundo do lago usando uma câmera içada por vara de pesca. A profundidade era de apenas um metro e meio. Mas a densidade de algas e material orgânico em suspensão permitiram visibilidade de poucos centímetros e o registro de um borrão verde salpicado de partículas.

O mesmo se repetiu na área próxima à estátua de Iemanjá, no Bairro São Luiz. Na região da Igreja de São Francisco de Assis, a câmera encontrou um o terreno arenoso no fundo. Na Casa do Baile, localizou os alicerces de pedra da ilha artificial. Próximo ao vertedouro, as rochas de sustentação de uma antiga rampa de lançamento de barcos apareceu nas profundezas.


EM - contaminados da Lagoa da Pampulha são vendidos ilegalmente em Belo Horizonte



Mesmo proibida, pesca ocorre normalmente na Lagoa da Pampulha e muitos exemplares são comercializados ilegalmente em frigoríficos da capital. 
Consumo traz vários riscos à saúde

Reportagem: Mateus Parreiras


As placas fincadas na água suja com lixo boiando avisam que a pesca e a natação são proibidas na Lagoa da Pampulha. Mas a pescaria das tilápias, carpas e cascudos do reservatório, que acaba tolerada por se pensar tratar de uma atividade de subsistência, esconde um perigo contra a saúde pública. Dezenas de pessoas munidas de varas lotearam as margens da orla e muitos deles vendem todos os dias para peixarias e frigoríficos de diferentes regiões da capital de 12 a 15 exemplares cada, animais contaminados por metais pesados e tóxicos. A informação foi verificada pela reportagem do Estado de Minas em conversa com os próprios pescadores, que foi gravada por uma câmera escondida. Um dos homens conta que cada um tem a sua “praça”, ou seja, uma feira ou estabelecimento que compra os peixes sem exigir certificado de procedência, como exige a Vigilância Sanitária Municipal.

Um deles, um homem de 34 anos, disse que sua “praça” é a José Verano da Silva (Praça da Febem), no Barreiro de Cima, mas não especificou qual estabelecimento compra a mercadoria. “Minha média é de 12 tilápias por dia, mais ou menos. Vendo a R$ 10 o quilo”, conta. Sobre os perigos de contaminação dos animais, o pescador demonstrou não ter qualquer receio pela sua saúde ou pela de quem compra. “Pesco aqui (na Pampulha) desde os 12 anos. Sempre comi desses peixes e estou muito bem. É isso que garante o pão do meu filho e da minha família”, afirma.

Em análise desses peixes feita pelo doutorando da UFMG, Luiz Alberto Sáenz Isla, engenheiro de pesca peruano especializado em aquicultura e mestre em ecotoxicologia pela USP, ficou comprovado que esses exemplares continham acúmulos de elementos nocivos que prejudicam a saúde de quem os consome por algum tempo. No caso das tilápias, a legislação sanitária brasileira tolera concentrações de até 0,3 partes por milhão (ppm) na musculatura do animal. Os exemplares da lagoa fisgados pelos pescadores e comprados para fazer a análise apresentaram 1,5ppm, ou seja, cinco vezes mais do que o limite para o consumo saudável. Outro metal pesado encontrado em concentrações exorbitantes foi o zinco, que chegou a ficar retido na proporção de 700ppm, quando o tolerável são 50ppm, índice 14 vezes inferior aos dos peixes da lagoa da capital mineira. Foram ainda encontradas cargas de cádmio e arsênio superiores ao tolerado, mas em medida não exata (veja ao lado).

“Esse é um problema de saúde pública. A prefeitura já proibiu esse consumo. A pessoa que vende para o frigorífico comete um atentando contra a saúde pública. A coisa muda mesmo, porque isso é delito. É coisa de polícia”, considera o especialista.

No organismo humano, em quantidades grandes equivalentes ao consumo continuado desse tipo de alimento contaminado, a pessoa pode sofrer vários prejuízos à saúde. Doses elevadas de chumbo podem provocar anemia, dores de cabeça, falta de apetite, dores abdominais e prisão de ventre. Em crianças e idosos, é possível haver convulsões e coma. O zinco pode trazer dores de cabeça, vômitos, diarreia, redução da cicatrização e da eficácia de antibióticos. O arsênio traz o aparecimento de feridas que não cicatrizam, gangrena, danos a órgãos vitais e câncer. Já o acúmulo de cádmio, um tóxico de ação cancerígena, pode causar hipertensão, doenças do coração e reumatismo.


PENA O pescador que vende e o comerciante que compra e distribui esse tipo de mercadoria estão sujeitos a responder por crime contra a economia popular por “expor à venda ou vender mercadoria ou produto alimentício cujo fabrico haja desatendido às determinações oficiais quanto ao peso e composição” e ainda podem responder por crime contra a saúde pública, somando penas de oito meses a três anos de prisão. Responderiam ainda administrativamente à Vigilância Sanitária, que pune o comerciante com lavratura de uma advertência, termo de intimação, apreensão de produtos, multa ou até a interdição do estabelecimento. A reportagem procurou quatro estabelecimentos na região da praça citada pelo pescador, mas nenhum admitiu comprar peixes sem procedência.

A Secretaria Municipal de Saúde não informou se algum peixe contaminado da Pampulha foi encontrado em comércios do ramo, mas afirma que “estabelecimentos que comercializam produtos de interesse da saúde, tais como açougues, peixarias e supermercados, são alvo constante da fiscalização sanitária”.

Confira o vídeo com o flagrante feito pela reportagem do Estado de Minas

 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

EM - PBH revê plano contra poluição na Pampulha



Prefeitura desiste de instalar jardins filtrantes em córregos e aposta no
cumprimento de metas da Copasa para despoluir 95% da lagoa


A ideia de tentar diminuir a quantidade de poluição que chega à Lagoa da Pampulha pelos oito córregos afluentes da represa usando plantas para segurar a matéria orgânica está descartada pela Prefeitura de Belo Horizonte. A tecnologia, que foi batizada de jardins filtrantes pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), não será implantada porque a prefeitura confia nos compromissos firmados pela Copasa de que, em junho e dezembro, a companhia de saneamento alcançará uma cobertura de 90% e 95%, respectivamente, de esgoto canalizado na área de drenagem da bacia da lagoa, que atinge a capital e Contagem, na Grande BH.

Atualmente, um total de 88% do esgoto que chega ao cartão-postal que concorre ao título de patrimônio mundial da humanidade já é coletado e tratado. Outro fator que levou a administração municipal a desistir da ideia, anunciada pelo próprio prefeito Marcio Lacerda em fevereiro do ano passado, foi a contratação dos serviços de recuperação química da qualidade da água da represa, com previsão de início no mês que vem e investimento público de R$ 30 milhões. Essa era a oitava intervenção prevista desde a década de 1970 para despoluir a lagoa.

“A Sudecap entende como mais adequado que se aguarde os resultados que serão alcançados tanto pelas ações da Copasa quanto pelos serviços de recuperação da qualidade da água da lagoa, a partir do entendimento de que ambas se configuram como aquelas necessárias e suficientes para o atingimento das metas pretendidas”, diz texto encaminhado pela assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura de Belo Horizonte.

A intenção da prefeitura era iniciar com uma estação piloto no Córrego D’Água Funda/Bom Jesus. O modelo custaria R$ 6 milhões e seria estendido aos outros sete córregos que desembocam na represa. Em julho, Marcio Lacerda chegou a afirmar que as estações seriam viabilizadas em mais de um córrego antes da conclusão das obras de canalização do esgoto feitas pela Copasa. A empresa estatal enfrentou diversos problemas de desapropriações para viabilizar as intervenções, o que atrasou os trabalhos e jogou as novas iniciativas para junho deste ano (90% do esgoto canalizado) e dezembro (95%).


Enquanto isso, moradores da Vila Pérola, em Contagem, na Grande BH, continuam convivendo com o lançamento de esgoto a céu aberto em cursos d’água que chegam até a lagoa. O bairro é um dos que está incluído na previsão da Copasa para alcançar a marca prevista de 100 quilômetros de redes coletoras e interceptoras implantadas na atual licitação de obras em vigência. O presidente da Associação Comunitária dos Moradores da Vila Pérola (ACMVP), Renato Gherardi, mostra o córrego que passa pela região e recebe lixo e esgoto espremido em uma viela no meio de casas. "O grande problema é que ele fica muito fechado, praticamente escondido. Se fosse aberto no meio da rua, algum órgão público já teria resolvido esse tormento, que contribui para o mau cheiro e proliferação de ratos e baratas”, critica o líder comunitário.

O engenheiro Tonimar Oliveira, de 40 anos, mora na Rua Iguaçaba, na mesma Vila Pérola, e ainda guarda uma carta que recebeu de uma empreiteira contratada pela Copasa no ano passado avisando da necessidade de desapropriação de uma parte do terreno para a passagem da rede de esgoto, o que ainda não ocorreu. “Essa situação é muito triste, principalmente porque esse córrego é formado em uma nascente bem perto daqui, com água totalmente limpa. Esse recurso já era para estar separado do esgoto e revertido para o bem da população”, afirma.

Ligações Se em alguns lugares o drama da falta de saneamento persiste, em outros, as intervenções da Copasa vão dando um alento à população. Ontem, a reportagem flagrou trabalhadores fazendo ligações na Rua C, na Vila Lua Nova da Pampulha, também em Contagem. Morando há um ano em uma residência nessa rua, a dona de casa Laurentina Botelho, de 58, não aguentava mais o mau cheiro que o despejo irregular de esgoto causa na região. “Eu cuido diariamente da minha sobrinha e fico preocupada também por causa dela, que tem só um aninho. Aqui em casa já está tudo pronto, falta só ligar”, disse ela, enquanto aguardava os técnicos concluírem o serviço em uma casa antes de passar para a dela.

O biólogo e especialista em recursos hídricos Rafael Resck reconhece que a recuperação química das águas da lagoa, prevista para começar em fevereiro, é uma medida importante para acelerar um processo que poderia durar anos. Porém, ele adverte que o ideal seria começar o serviço com a interrupção brusca do esgoto que ainda entra todos os dias na lagoa. “Não adianta limpar a água da Pampulha com o tanto de esgoto que chega. É imprescindível que a fonte de material orgânico e de nutrientes seja minimizada radicalmente. Por ser um reservatório, a depuração desses resíduos é bem mais lenta na Pampulha”, afirma.

A Copasa sustenta que investiu R$ 102 milhões para garantir a implantação de 100 quilômetros de redes coletoras e interceptoras, além de nove estações elevatórias de esgoto na Bacia da Pampulha em BH e Contagem. Porém, para viabilizar todas essas obras, foi necessário desapropriar 17 áreas, cujos processos judiciais se arrastaram por um ano e meio, atrapalhando o prazo inicial de conclusão antes da Copa do Mundo. O segundo percalço enfrentado foi a desistência da empresa contratada para terminar essas obras, previstas para o mês passado, o que jogou para junho a conclusão dos 100 quilômetros de rede, que vão significar 90% do esgoto captado.

A terceira situação que dificulta o trabalho da companhia de saneamento é a expansão geográfica na área da bacia, o que levou a empresa a licitar uma segunda etapa de obra, para mais 13,4 quilômetros de redes, ao custo de 14 R$ milhões e o suficiente para captar os resíduos de mais 10 mil imóveis. A previsão de conclusão dessa parte é dezembro de 2016, chegando a 95% do esgoto que vai para a lagoa devidamente captado e levado até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Onça. A Sudecap garante que a realização das obras de captação de esgoto até dezembro não vai atrasar a recuperação da qualidade da água da lagoa.

BALANÇO DE INTERVENÇÕES
Veja alguns planos postos em prática e outros que não saíram do papel para tentar despoluir a Pampulha

AGUAPÉS 1
Em meados da década de 1970 a lagoa foi invadida pelos aguapés. Segundo moradores mais antigos, a planta foi introduzida para tentar “limpar” o reservatório, que recebia grande quantidade de esgoto.

AGUAPÉS 2
Tentativa de solução, os aguapés viraram novo problema. Na década de 1990 começam as ações para retirar as plantas, que se tornaram problema crônico e cobriam grande parte do espelho d’água.

BARCO
No início de 2000, com a queda da oxigenação na água, foram usados barcos de forma emergencial, com algum efeito positivo. Ao girar, a hélice da embarcação misturava ar e água, permitindo introdução do oxigênio.

REDES COLETORAS
Também no ano de 2000, a Copasa dá início à construção das redes coletoras de esgoto e interceptação das ligações clandestinas. Trata-se de um novo tempo na trajetória do reservatório. A intervenção segue em curso atualmente e a previsão é que em dezembro de 2016 a Copasa chegue a 95% do esgoto interceptado.

FLOATFLUX
Em 2004, um sistema chamado floatflux entra em operação nos córregos Ressaca e Sarandi, para retirar 80% de matéria orgânica e 90% de fósforo – nutriente que propicia o crescimento de algas.


DRAGAGEM
Em 2013/2014 é feita dragagem para retirar sedimentos da lagoa. No total, foram 800 mil metros cúbicos de material.

RECUPERAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
A licitação dos Serviços de Recuperação da Qualidade da Água da Lagoa da Pampulha chegou a ser suspensa por decisão da Prefeitura de BH, até que estivessem integralmente implementadas as ações de coleta e interceptação de esgotos na Bacia da Pampulha. O certame foi retomado, mas suspenso novamente por determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A prefeitura conseguiu reverter a decisão na Justiça. A previsão de início dos trabalhos, com duração de 22 meses, é fevereiro deste ano.


JARDINS FILTRANTES
Anunciada em fevereiro de 2015, a intervenção prometia usar plantas para segurar a matéria orgânica que entra na lagoa pelos oito córregos afluentes. Não saiu do papel e foi descartada, com aposta na soma das redes coletoras com a recuperação da qualidade da água.

CAÇADA AO ESGOTO
A Copasa mantém um programa denominado Caça-Esgoto, para identificar lançamentos indevidos e chegar a 100% dos resíduos coletados na Bacia da Pampulha. “Esse programa tem detectado lançamentos de esgoto que, para serem corrigidos, exigem melhorias na urbanização. Portanto, qualquer ação para aumentar o percentual do esgoto coletado terá que passar por ações conjuntas com Contagem e Belo Horizonte”, afirma a empresa em nota.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

EM - Candidata a patrimônio da Unesco, Pampulha terá avaliação de consultoria no fim de setembro



"O que for decidido nessa visita pela consultora será decisivo", afirmou a presidente do Iphan, Jurema Machado

Gustavo Werneck


Dia D para a Pampulha, cartão-postal de Belo Horizonte e candidata a patrimônio mundial, título concedido pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Em 28 de setembro, chegará à capital a consultora venezuelana Maria Eugênia Bacci, do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), para fazer a avaliação final sobre o conjunto arquitetônico modernista projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012) e construído à beira da lagoa na década de 1940. A informação foi divulgada, ontem, pela presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado, durante a comemoração do Dia Nacional do Patrimônio Cultural em Minas Gerais, na Casa do Conde, Região Leste da cidade. A consultora do Icomos ficará em BH até 2 de outubro.

“O que for decidido nessa visita pela consultora será decisivo”, afirmou Jurema, destacando a Pampulha como “bem cultural excepcional” e único sítio, desta vez, candidato do Brasil. Na sua avaliação, foi fundamental o aceite pela Unesco do dossiê preparado durante um ano e entregue à instituição com sede em Paris, na França. “Já trouxemos, em caráter informal, um consultor do Icomos para conhecer a Pampulha, e o resultado foi positivo. O aceite foi um grande passo nessa campanha”, acrescentou. A expectativa é de que o anúncio oficial seja feito pela Unesco em meados do ano que vem.

“No momento, estamos formando o comitê gestor da Pampulha, que será responsável pela interlocução com a Unesco, depois que o título for concedido. É a fase pós-reconhecimento”, contou Jurema com otimismo. O comitê será formado por representantes do Iphan, de órgãos municipais e dos moradores e tem o objetivo de verificar a situação do local e cobrar ações das autoridades para permanente preservação.

POLUIÇÃO Problemas citados por especialistas como gargalos na conquista do título – poluição do espelho d’água por lançamento de esgoto e a construção de um anexo no Iate Tênis Clube, que descaracterizaria a paisagem – não deverão pesar na balança do Icomos, acredita a presidente do Iphan. Ela explicou que a limpeza da Lagoa da Pampulha tem sido gradativa, com a construção dos coletores e interceptores de esgoto e caça aos lançamentos domésticos clandestinos de matéria orgânica. “Já conversei com o prefeito Marcio Lacerda sobre isso e está bem encaminhado”, afirmou.

Quanto ao Iate Tênis Clube, onde há um anexo no qual funciona uma academia e um salão, Jurema explicou “que houve negociação para reforma e futura demolição do pavimento”. E acrescentou: “O acordo está sendo feito e isso não deverá atrapalhar a decisão. O certo é que há uma mobilização para a Pampulha se tornar patrimônio mundial”, disse Jurema. De acordo com a direção do clube, via assessoria de imprensa, “a intenção do clube não é criar empecilhos para a conquista do título, pois é parte interessada no reconhecimento”. Os dirigentes, no entanto, afirmam que não foram notificados pela prefeitura para demolir o anexo, o que teria custo elevado para o clube.

RESTAURAÇÃO Durante a reunião comemorativa do Dia do Patrimônio Nacional – a data reverencia a memória do belo-horizontino e primeiro presidente da instituição federal, Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969), a superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino, disse que a licitação da Igreja de São Francisco já foi concluída e que as intervenções podem ser iniciadas. Outras obras previstas, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, incluem a Catedral da Sé, que terá recursos de R$ 6 milhões.

A candidatura do complexo

A Pampulha está na lista indicativa do Brasil desde 1996 e sua candidatura a patrimônio cultural da humanidade foi retomada pela PBH em dezembro de 2012. O conjunto arquitetônico inclui os edifícios e jardins da Igreja de São Francisco de Assis, o Museu de Arte, antigo cassino, Casa do Baile (atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte), Iate Golfe Clube (hoje Iate Tênis Clube), construídos quase simultaneamente entre 1942 e 1943, além da residência de Juscelino Kubitschek (atual Casa Kubitschek), datada de 1943. Entre os que deixaram sua marca na Pampulha, está o nome do pintor Cândido Portinari (1903-1962). Se houver o reconhecimento, BH estará ao lado de mais três cidades mineiras: Ouro Preto (título concedido em 1980), Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (1985), na Região Central, e Diamantina (1999), no Vale do Jequitinhonha.

sábado, 8 de agosto de 2015

EM - Esgoto na Lagoa da Pampulha tira moradores de casa



Marinella Castro


Moradores da Pampulha, na região da Enseada das Garças,  estão sufocados pelo mau cheiro, que nas últimas semanas tomou conta da lagoa. A área se transformou em uma espécie de lixão flutuante, onde podem ser vistos toda a sorte de detritos represados.  Com náuseas, a vizinhança  está fugindo do local que tem atraído os urubus. Por causa do odor, há moradores que decidiram se mudar temporariamente para casa de parentes.

"Amanhã (neste domingo) não poderemos passar o dia dos pais em casa. Como receber filhos e netos com esse mau cheiro horroroso?",  diz a auxiliar de administração, Efigênia Oliveira. Segundo ela,  muitos moradores estão se sentindo mal e tendo náuseas. Janelas e portas devem permanecer fechadas durante todo o dia, para impedir a entrada da brisa. "Temos vizinhos que já foram parar no hospital", conta Efigênia.

Há 35 anos a professora aposentada,  Vera Lúcia Vieira é vizinha da Enseada. Ela conta que passou 40 dias em uma viagem e ao retornar para casa, foi surpreendida pelo lixo e esgoto. "A Enseada das Garças está sendo transformada em um depósito de detritos. Em mais de 30 anos, nunca vi uma situação tão grave."

O acúmulo de dejetos ocorre na avenida Otacílio Negrão de Lima, na altura do número 12.400. Na segunda-feira, moradores da região vão até a Prefeitura cobrar uma solução para a lagoa. "Vamos também ao Ministério Público. O lugar virou ponto de urubus, dominado por uma nata de esgoto", denuncia Vera Lúcia.

A reportagem não conseguiu contato com a Prefeitura de Belo Horizonte. 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Hoje em Dia - Em desarmonia com projeto de Niemeyer, anexo do clube destoa na Pampulha

Renata Fonseca


Anexo construído quatro décadas após inauguração do clube atrapalha a visibilidade da lagoa

Erguido em desarmonia ao traço modernista de Oscar Niemeyer, um anexo do Iate Tênis Clube, construído quatro décadas após a inauguração do projeto original, é o calcanhar de Aquiles do conjunto arquitetônico da Pampulha. A descaracterização do edifício, principal obstáculo para que o complexo receba o título de patrimônio mundial da humanidade, poderá ser revertida. Negociação para retomar as formas criadas pelo arquiteto está em andamento.

A novidade integra o dossiê da candidatura da Pampulha à chancela internacional. O documento será entregue nesta sexta-feira (12), dia do aniversário de 117 anos de Belo Horizonte, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em seguida, as mais de 500 páginas serão remetidas à análise da Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco).

Um termo de compromisso, assinado entre a prefeitura de Belo Horizonte, Iphan e a direção do Iate, prevê a elaboração de um projeto de readequação urbanística do anexo e restauração completa do espaço. A obra está estimada em R$ 7,5 milhões, e a maior parte dos recursos seria bancada pelo município e pela União. Uma contrapartida, como a abertura à visitação pública, estaria prevista no acordo.

“Muito se fala sobre a despoluição da Lagoa da Pampulha como empecilho à busca pelo título de patrimônio mundial. Claro que essa revitalização é importante, mas o principal desafio é o resgate do Iate. A edificação foi muito descaracterizada ao longo dos últimos anos”, afirma o presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas Oliveira.

Projetado em 1940 como espaço de lazer e esportes, o local recebeu o nome de Iate Clube. O imóvel foi pensado por Niemeyer como uma grande embarcação às margens da lagoa.

Intervenções em todo o complexo arquitetônico

O Iate Tênis Clube foi privatizado em 1961 e passou por uma série de reformas nas décadas seguintes, tanto no edifício-sede quanto nas áreas externas. O prédio principal manteve a leitura externa original, mas sofreu modificações no interior. Por volta de 1980, foi construído o anexo, que abriga um salão de festas e ofusca a vista da lagoa.

Responsável por elaborar, há três anos, um plano diretor para o local, o professor Flávio Carsalade, da Escola de Arquitetura da UFMG, destaca algumas das intervenções necessárias: a demolição dos elementos descaracterizados e a restauração do edifício projetado por Niemeyer e dos jardins de Burle-Marx. “Não é uma obra muito complicada. Acredito que levaria cerca de um ano para ficar pronta”, diz.

A diretoria do Iate evita adiantar detalhes do termo de compromisso assinado e aguarda as medidas e condições de restauro a serem apresentadas pelos órgãos envolvidos. Em nota, garante que “vai contribuir para o desenvolvimento de ações propostas, de acordo com a sua realidade”. O clube acrescentou que a revitalização do espelho d’água contribuirá para o retorno dos esportes náuticos na região.

Além da restauração do Iate e da recuperação da água da lagoa, estão previstas no dossiê obras no antigo Cassino (atual Museu de Arte da Pampulha) e na Igreja São Francisco de Assis. No templo religioso, as juntas de dilatação da estrutura, em forma de abóbada, serão impermeabilizadas com um produto especial para evitar novas infiltrações.

Parte do mobilário original, que está guardado a sete chaves em outra igreja, retornará à capela. Na igrejinha, será criada uma esplanada, integrando o espaço à praça Dino Barbieri. O tráfego de veículos nesse trecho da avenida Otacílio Negrão de Lima, sentido oposto ao Mineirão, será proibido. A obra custará R$ 5,5 milhões.

Reconhecimento

Atualmente, a histórica Ouro Preto e o santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na região Central, e o centro de Diamantina, no Campo das Vertentes, integram a lista mineira de patrimônios culturais da humanidade. No Brasil, estão cidades como Rio de Janeiro, Brasília e Olinda. No mundo, são 190 países.

O título é concedido a monumentos, edifícios, trechos urbanos e até ambientes naturais que tenham valor histórico, estético, arqueológico e científico. O objetivo não é apenas catalogar esses bens, mas ajudar na sua identificação, proteção e preservação.

Em setembro de 2015, está prevista uma visita de técnicos da Unesco ao complexo moderno de BH. O julgamento deve durar um ano e meio.